Por Amanda Del Corso
Primeiro um brinquedão para crianças, depois um parque para pássaros.
Neste post, vamos acompanhar o Grupo V em um percurso de construção e habitação do novo quintal.
Em meados de maio de 2018, o brinquedão projetado pelo Grupo IV de 2017 ficou pronto. O quintal novo, então, foi aberto às crianças.
Passado o momento de maior descoberta desse espaço, começamos a levar algumas crianças do Grupo V para observarem o lugar e nos ajudarem a ver o que ainda poderia ser pensado para esse amplo espaço ainda inabitado.
Em pequenos grupos as crianças vão ao quintal pensar formas de ocupar o grande espaço vazio.
Giovanna, Maya e Duda, que foram como segundo grupo, começam falando que gostariam que tivessem mais plantas, flores e árvores, incluindo uma plantação de girassóis para que pudessem comer as sementes. E então chegam a uma ideia:
Giovanna: É! E a gente pode por um montão de flores dentro de um bambolê.
Maya: E tem que proibir os pica-paus de entrarem, porque eles bicam as árvores.
Amanda: Como vocês vão proibir os pica-paus de entrarem?
Giovanna: A gente faz: xô, xô!
Amanda: E quando vocês não estiverem aqui?
Giovanna: E aí a gente faz uma máquina de espantar... E se quebrar...
Amanda: Uma máquina de espantar pássaros?
Giovanna: Ahã...
Amanda: Como funciona uma máquina assim?
Giovanna: A gente constrói, ué!
Em uma segunda conversa, agora com Antônio e Flávio também contribuindo com sugestões, conseguimos reverter a ideia de uma máquina de espantar pássaros, que não dialoga com o que pensamos sobre os pássaros - são animais que devem ficar livres, soltos e felizes - para um parque para eles possam se divertir.
Eu queria falar a minha ideia. Flávio
Fala. Amanda
Eu queria deixar os pássaros entrarem. Flávio
Eu concordo. Duda
Eu não. Eles podem comer a semente de girassol! Giovanna
Eu concordo com a Giovanna. Antônio
Eu concordo com o Flávio. Não proibir os pássaros. Duda
Agora faz de conta que vocês são os pássaros, que pássaro você seria? (Eles começam a piar, imitando pássaros) Amanda
Eu seria um beija-flor. Duda
Eu seria um passarinho, eu seria um filhotinho de passarinho. Quer dizer, um pintinho. Giovanna
Eu seria um pica-pau. Flávio
Eu seria um tucano. Maya
Eu seria uma pombinha que joga veneno. Antônio
Agora imagina que vocês pássaros estão voando, e veem o quintal da Carambola. O que vocês gostariam que tivesse lá para vocês se divertirem? Amanda
Minhoca! Giovanna
Minhocas, um ninho... Duda
Escorregador de pombas! Flávio
Árvores, flores... Duda
Ou um balanço pra pombo! Flavio
Um parquinho pra passarinho. Duda
Acho que chegamos numa ideia boa! Vocês acham que os pássaros vão gostar de ficar nesse parque? Amanda
Sim, eu não gosto de prender bichos. Maya
Então as crianças começam a dar vida às ideias que têm sobre o parque dos pássaros.
Gabriel constrói uma escada para os pássaros subirem nas árvores, enquanto Rafael e Árion constroem um banheiro para os pássaros.
Antônio se ocupa de fazer a placa do parque.
E os diversos tipos de materiais dão vida à diferentes espécies de pássaros...
E assim, brincando de “serem pássaros”, as crianças concluem que os pássaros possuem uma “língua própria”, um idioma que se modifica de acordo com a espécie em questão.
Duda nos explica como se comunicam as araras, que é de forma diferente dos tucanos.
Ravi: Eu acho que eles (os pássaros) escorregam de perna dobrada pra não queimar o pé.
Fernando: Eu acho que eles escorregam com a asa assim, pra não ficar voando toda hora.
Mas um parque para pássaros não pode ser como um parque para crianças. Pássaros não são crianças, pássaros voam, seus corpos são diferentes. Logo, projetar os brinquedos de um parque assim exige que a gente entenda como um pássaro se comporta.
Quais as diferenças no modo de agir (existir) entre pássaros e crianças?
A gente se debruça a viver essa experiência no corpo, para entender que tipo de “brinquedos” ou “atrações” teremos de criar para esses animais que queremos que nos visitem no nosso novo quintal.
E assim temos nossos meninos-pássaros, ensaiando voos e testando possibilidades.