Naquele dia os panos estavam pendurados.
Juntos eles formavam, segundo Elisa:
“A barriga do gigante.”
Ou ainda, pelo olhar de Antonio:
“A barriga do crocodilo.”
E era lá dentro daquele bicho que as crianças iriam ouvir uma história.
Enquanto todos ajeitavam os panos e se colocavam dentro daquela barriga tão grande, Antonio também parecia se preparar para o momento.
Pegou um pano rosa e se vestiu.
Todos prontos!
A história começara.
De repente, Antonio sai da barriga.
Parece arrumar seu pano rosa e volta com tranquilidade para a história.
Por uma segunda vez, vejo Antonio saindo do crocodilo de forma inquieta.
Para por um segundo, e parece ouvir de fora a história ecoando.
Voltando o olhar para o seu corpo, talvez percebe que precisa achar um jeito ainda melhor de estar com aquele pano.
Começa então a sua busca...
Estica o pano rosa.
Parece ver seus buracos e medir cada um deles. Ao mesmo tempo, imagina se conseguiria prender o pano em sua cabeça.
Talvez uma outra parte pudesse ficar presa em seus braços.
A história ecoa novamente da barriga do crocodilo. E como quem para e descansa, ouve.
Volta o olhar mais uma vez para o pano rosa e seu corpo.
Me pede para fazer um nó em um lugar bem específico e com as pontas já separadas.
O nó parece frouxo. E antes mesmo que o nó se desfaça, Antonio parece dançar com o pano em um jogo lento de equilíbrio e paciência.
Talvez agora esteja de um jeito bom: o pano rosa preso em Antonio. Antonio preso no pano rosa.
Antonio olha para o próprio corpo.
Olha para mim e sorri. Um sorriso de satisfação, de encontro.
Não consigo entender se sorri pelo pano amarrado em seu corpo ou pelo jogo que travavam juntos.
Então Antonio vai ao chão.
Levanta o pano e parece virar um bicho. Caminha suavemente como algum ser suntuoso, talvez com uma cauda longa e formosa.
Levanta e olha o próprio corpo com aquele pano rosa.
Tira uma parte de lado, veste novamente o braço, troca o nó de lugar e torce outra parte.
E como se estivesse cansado daquele jogo, senta na mesa e ouve, vindo da barriga do crocodilo, o final da história.